Alimentação sustentável: uma necessidade urgente

Por À Roda da Alimentação

A alimentação sustentável é uma prioridade para os países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Nos termos de uma equação desequilibrada, temos por um lado um excesso de obesidade, e, por outro, demasiado desperdício alimentar. É urgente comer de uma forma mais consciente, privilegiando a dieta mediterrânica, ganhando pequenos hábitos e sobretudo mantendo um enorme respeito pelo planeta. 

Quando a Organização das Nações Unidas (ONU) delineou no início do novo milénio os objetivos para aumentar a esperança média de vida e a qualidade de vida, propôs uma série de desafios relacionados com a erradicação da fome e da pobreza, bem como com a garantia da sustentabilidade ambiental. No entanto, a percentagem mundial de população com fome e desnutrição continua em alerta vermelho.

Em Portugal, há razões para ficarmos preocupados quer em termos económicos, quer em termos de saúde, mas podemos arrepiar caminho. A verdade é que podemos comer de uma forma bastante mais saudável gastando menos e diminuindo a nossa pegada ecológica no planeta.

A desnutrição dos mais velhos e mais vulneráveis

Outra questão importante no contexto do nosso país é o facto de os serem a camada mais vulnerável da população portuguesa, uma vez que vivem, em alguns casos, numa situação preocupante: por serem aqueles que têm menos recursos financeiros, são também, por conseguinte, os que apresentam um nível de desnutrição mais elevado. Para os mais vulneráveis, uma alimentação sustentável pode ser um contributo precioso para melhorar tanto o nível de vida como a saúde dos mais velhos.

Considerando o panorama mundial, mas pensando também no caso português, o 2020, um projeto na área da saúde alimentar promovido pela Associação Portuguesa de Dietistas em parceria com o projeto Eat Like You Mean It, apresenta algumas soluções para uma alimentação mais sustentável. São hábitos simples de adotar em todas as faixas etárias e têm por base a Dieta Mediterrânica, considerada um dos padrões alimentares mais sustentáveis do mundo.

Alimentação Sustentável

Desvantagens do excesso de proteína animal

O consumo de alimentos de origem animal cresceu bastante nas últimas décadas devido a diversos fatores, entre os quais se destacam o aumento da população mundial e a reconstituição económica do período do pós-guerra.

Em termos de saúde, o consumo excessivo de proteína animal – especialmente de vermelhas e de lacticínios – tem consequências bastante conhecidas para aqueles que se preocupam com a saúde. Algumas das consequências deste consumo de proteína em excesso são o aumento do risco de doenças cardiovasculares, diabetes, certos tipos de cancro, problemas intestinais, além de alterações nos rins e no fígado pelo excesso de sobrecarga proteica que obriga estes órgãos a trabalhar arduamente.  Prevê-se que dentro de trinta anos, em 2050, haverá cerca de 9,6 biliões de pessoas para alimentar.

Mais do que nunca é urgente encontrar uma solução e o Continente têm-se empenhado nisso: tornou-se na primeira marca de retalho nacional a comercializar produtos alimentares à base de insetos, após a Direcção-Geral da Alimentação e Veterinária ter autorizado a comercialização e consumo de sete espécies de insetos no país.

Vai um inseto comestível?

Princípios de uma alimentação sustentável

Uma alimentação sustentável permite satisfazer as nossas necessidades sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras conseguirem percorrer igualmente o mesmo caminho. De acordo com o programa do Movimento 2020, «é necessário adotar uma dieta saudável e nutricionalmente adequada, com baixo impacto ambiental, acessível, justa para todos os intervenientes da cadeia alimentar e que respeite a biodiversidade e as tradições culturais». Mas há alguns princípios simples e incontornáveis que promovem uma alimentação mais sustentável e uma mudança urgente do estilo de vida. Segui-los não é difícil:

  • Aposte na porque éconsiderada uma dieta extremamente sustentável. Além de muito variada, respeita a natureza, a sazonalidade, o legado cultural gastronómico e promove o consumo de alimentos com benefícios comprovados para a saúde – fruta, hortícolas, , , peixe e , , cereais integrai, oleaginosos e especiarias.
  • Aumente o consumo de alimentos vegetais (leguminosas, cereais integrais, frutos oleaginosos e sementes). Quem quiser ir mais longe e passar para um regime vegetariano devidamente planeado poderá ver benefícios na sua saúde e bem-estar.
  • Consuma alimentos locais e sazonais, o que só trará vantagens para o ambiente, a economia local e a saúde. Além disso, permite-lhe apreciar a diversidade dos produtos, como é o caso das maravilhosas frutas de verão.
  • Compre produtos no comércio justo, e assim estará a apoiar pequenos produtores de países em vias de desenvolvimento. Eles agradecem e para nós o preço é mais vantajoso.
  • Privilegie os produtos com embalagens ecológicas ou de preferência sem embalagem, uma vez que essa prática reduz o consumo de plástico, metal ou papel.
  • Inclua mais alimentos de origem biológica, visto que o seu impacto ambiental é menor do que o impacto da agricultura convencional.
  • Consuma alimentos minimamente processados, porque preservam o seu conteúdo nutricional original e são amigos do ambiente.  
  • Improvise uma horta se não a tiver. Um pequeno canteiro ou um espaço com vasinhos dispostos na vertical é uma excelente solução para consumir os seus legumes e as que plantou. Além disso, dar-lhe-á a satisfação única de comer aquilo que foi produzido por si.
  • Saboreie as refeições e coma com consciência. Quando saboreamos os alimentos, temos automaticamente uma sensação de prazer e de bem-estar, o que é sempre altamente benéfico para o organismo. Degustar uma refeição sem fazer simultaneamente outra coisa qualquer – como estar a trabalhar no computador, a ver televisão ou a olhar para o telefone – permite aumentar a capacidade de a usufruir. Além disso, é importante que tenha consciência do impacto das suas escolhas alimentares. Comprar aquilo que vamos consumir e pôr no prato a quantidade necessária é fundamental para evitar o desperdício – vale a pena, a propósito conhecer a iniciativa caixas Zer0% desperdício do Continente.

Em termos particulares, estas práticas são uma forma simples e infalível de melhorar a saúde, a qualidade de vida e a economia doméstica. A nível global, vão alimentar o futuro do planeta e o bem-estar das gerações vindouras. A sustentabilidade alimentar tornou-se assim praticamente uma questão ética: cada ser humano pode agir o melhor possível, consciente da importância do seu papel. A alternativa é ignorá-lo com o pensamento egoísta de que em última instância o futuro não lhe diz respeito.

Bom apetite!

Fonte: movimento 2020.org

Autor

À Roda da Alimentação