O tipo de alimentação que fazemos, a quantidade de bens que consumimos e a questão da sua proveniência vão exigir uma mudança de hábitos que começa nos nossos pratos. Escolher produtos locais pode fazer toda a diferença.
O uso abusivo dos recursos naturais, cuja capacidade de regeneração não acompanha o nível de procura, associado a um aumento da população com um estilo de vida pouco saudável, coloca-nos desafios que teremos de enfrentar.
A pegada ecológica dos portugueses – ou seja, o resultado da soma de elementos do quotidiano como o consumo de energia, a mobilidade, a alimentação, entre outros, relacionado com as emissões de dióxido de carbono – exige comportamentos e hábitos de consumo mais sustentável.
A redução da pegada ecológica implica, ainda, outro nível de consciência: é preciso dar uns passos atrás para poder seguir em frente e, neste aspeto, a mobilidade e o consumo alimentar estão entre as bases do problema.
A questão dos transportes é essencial para a economia circular responder à sustentabilidade e diminuir a pressão do consumo: desperdiça-se mundialmente um terço do que se produz devido à distância percorrida entre o local de origem e o local de consumo, ou seja, devido à necessidade de deslocação entre estes dois pontos.
No entanto, o problema que nos move acima reside sobretudo na produção alimentar e na aproximação entre produtores e consumidores. Simplificando, parte do aumento da sustentabilidade passa pelo consumo local, nas redes agroalimentares alternativas enas cadeias curtas – sem intermediários, diminui, como referimos, a distância percorrida pelos alimentos até chegarem aos locais de venda.
Neste aspeto o Continente foi uma marca pioneira. Em 1998 nasceu o Clube de Produtores Continente para aproximar os agricultores nacionais dos consumidores e promover as melhores práticas de produção. Com 250 membros distribuídos de Norte a Sul do país, Açores e Madeira, valoriza a autenticidade dos produtos portugueses, produzidos com elevados padrões de qualidade e segurança.
Produtos Locais: cá se fazem, cá se comem
Do incentivo à produção local e ao consumo dos seus produtos decorrem consequências altamente vantajosas a todos os níveis e que atenuam os tempos difíceis em várias frentes:
- Maior frescura, sabor, qualidade e longevidade dos alimentos.
- Preço mais baixo para os consumidores.
- Maior incentivo aos produtores.
- Sustentabilidade agrícola à escala local, regional e nacional.
- Sustentabilidade económica e ambiental – os alimentos são produzidos, processados, embalados, transportados e distribuídos, etapas que consomem recursos, geram desperdício e poluição.
- Promoção da sazonalidade – a produção local ajusta-se em função da procura e da oferta possível em cada época do ano.
- Preservação da identidade e da paisagem agrícola com o cultivo e o consumo daquilo que é próprio de cada região.
- Conservação de bens essenciais como a água e o solo, que passam a estar disponíveis para as gerações futuras.
- Recurso à mão de obra local, o que permite gerar emprego.
Um consumo consciente: dicas para ser um excelente consumidor local
- Prefira sempre produtos frescos, são uma garantia de que o circuito entre a produção e o consumidor é mais curto e, por outro lado, elimina uma série de recursos, como as etapas do transporte, da distribuição e do acondicionamento.
- Prefira produtos da época, são uma garantia de frescura e uma forma de respeitar os ciclos e as estações. Além disso, têm uma melhor relação qualidade-preço.
- Escolha, sem que possível, modos de produção mais sustentáveis. É importante optar por produtos que são fruto de boas práticas agrícolas, de utilização de recursos naturais sustentáveis, nomeadamente com certificação de produção biológica, entre outros.
- Tenha um papel ativo na certificação daquilo que compra. Dessa forma estará a contribuir para a melhoria da qualidade e da rastreabilidade dos produtos locais.
- Opte por embalagens ecológicas, de preferência embalagens recicláveis. Sobretudo evite o plástico, que normalmente acaba por ir parar ao solo ou ao mar, sendo sempre um fator de degradação dos ecossistemas. Idealmente, é sempre melhor comprar a granel, usando para o efeito o seu próprio saco.
Consumo e produção responsáveis: diz-me como comes, dir-te-ei quem és
Cada consumidor tem um determinado perfil, certos gostos e tendências, mas a consciência daquilo que somos vai influenciar as nossas opções, bem como a pressão que exercemos sobre o planeta. É fundamental, por exemplo, comprar apenas o que vamos consumir e pôr no prato a quantidade que vamos comer, uma vez que estas duas práticas evitam o desperdício. Parece uma questão elementar, mas a quantidade de alimentos que desperdiçamos nas nossas casas é, ainda, preocupante.
No entanto, a sustentabilidade passa também por hábitos de outra ordem. A aposta na dieta mediterrânica é sempre uma opção tão ecológica quanto saudável, por ser variada, por respeitar a sazonalidade, a cultura gastronómica e promover o consumo de alimentos muito benéficos para a saúde – nomeadamente fruta, hortícolas, leguminosas, azeite, pescado, laticínios, cereais integrais e especiarias, ou seja, produtos que podem ser adquiridos localmente.
Bom apetite!
Fonte: Guia para consumir local
Autor
À Roda da Alimentação