É moda passageira ou existem realmente alimentos com vantagens extra para a saúde? Para desmistificar este tema controverso, contei com a ajuda do Dr. João Ramos.
Aqui ou ali, certamente já ouviu falar dos superalimentos, ou seja, alimentos com benefícios superiores para o organismo, como o açaí, as bagas goji ou o chá matcha, por exemplo. A questão é que o tema dá pano para mangas e há quem ponha em causa os seus alegados superpoderes. Para esclarecer as dúvidas, fiz cinco perguntas ao médico de família João Ramos, que costuma colaborar em alguns programas da RTP.
1. No meio de tanta desinformação, o que são exatamente superalimentos?
Vivemos num paradoxo, numa sociedade onde abunda informação e, ao mesmo tempo, iliteracia em saúde, desinformação e até contrainformação. ‘Superalimento’ é um conceito recente, pouco consensual entre os profissionais de nutrição, que pode induzir os consumidores em erro. Para mim, não existem superalimentos. Existem, sim, alimentos ricos em diferentes fitonutrientes, o que os torna especialmente completos e nutritivos.
2. Estes produtos já existem há décadas. Como explica a atenção que recebem agora?
Cresci a comer banana e abacate e a beber leite de vaca, três bons exemplos de alimentos completos, e com inúmeros nutrientes essenciais, que só agora são vistos como tal. Na saúde e nutrição também se vive de modas. Isso faz parte da evolução do conhecimento. Só isso.
3. Quais são os superalimentos mais importantes para o organismo?
Para mim não existem superalimentos e penso que o conceito cairá em desuso. Mas a existir, será um alimento imprescindível e insubstituível, sem o qual morreríamos; e só existe um – a água.
4. Qualquer pessoa pode incluir os alegados superalimentos na sua dieta?
Até prova em contrário, todas as pessoas beneficiam com o consumo frequente destes alimentos, sempre dentro do bom senso e da variabilidade alimentar. O perigo será sempre o excesso, não só dos considerados ‘alimentos da moda’, mas também de todos os outros. Há uma frase do pai de um amigo que acho genial: “não há drogas nem venenos, há doses!” Portanto, quer sejam frutos secos, leguminosas, sementes ou brócolos, o excesso é que faz mal.
5. Em termos de nutrientes, quais são as maiores carências alimentares dos portugueses?
Os estudos dizem que, apesar da nossa roda alimentar ser bastante fácil de entender e de aplicar à dieta mediterrânea, em Portugal existe carência e falta de cultura no consumo regular de fruta e legumes, e excesso de proteína animal e gorduras saturadas, açúcar e sal. Isto explica as dislipidémias (anomalias de gorduras no sangue), doenças metabólicas e cardiovasculares no mundo dito civilizado.
Autor
Catarina Furtado